Ao longo de quase duas décadas de experiência com o trabalho de escuta, ouso afirmar que o lugar da escuta clínica analítica é campo de produção de ressonâncias afetivas. Por meio da relação terapêutica é possível construir um conhecimento sobre causas que mobilizam os afetos e as marcas que fazem movimentar ou que paralisam o corpo. A clínica propicia a experiência da construção do cuidado-de-si. A vivência do acompanhamento do vir-a-ser, um encontro que zela poeticamente do Devir-artista da própria vida. Gosto de pensar na clínica enquanto um atelier, na qual cada sujeito singular em seu processo de subjetivação aprende a reconhecer em suas marcas e avessos uma caixa de ferramentas para a produção da própria vida.
Devir-artista?
Trata-se de um processo feito de intervalos entre sentir e experimentar, atravessar o fantasmagórico temível ao praticável simbólico. Visa construir por meio da poética do afeto, uma forma de conhecimento de si e desconstrução do que imaginamos do si. Um conhecimento visceral sobre os estranhos traços do sujeito que se repetem ao se encontrar com o real da vida. Por meio da escuta se cria uma memória criativa e uma prospecção, dando elementos para a construção do desejo e dos agenciamentos possíveis em um cotidiano trágico atravessado por linhas de força políticas, econômicas, sociais, biológicas, psíquicas e espirituais.
Um comentário
Celso Renato
Somos todos testemunhas do seu desejo pela clínica, Aline.
Daqui de onde estou, vejo ele pulsar e sou testemuha dos seus efeitos.